O contato com a natureza nunca se fez tão necessário, principalmente àqueles que vivem em centros urbanos, em especial as crianças. Segundo o Portal Aprendiz, dados mundiais apontam que crianças moradoras de cidades passam 90% do tempo em ambientes fechados, com pouco ou nenhum contato com o mundo externo, e isso é um grande problema. Claro que fatores externos, como violência desmedida dos centros urbanos e a correria do dia a dia, influenciam para essa clausura, que conta ainda com a ajuda de uma grande aliada: a tecnologia.

Com o mundo tomado por smartphones, videogames e gadgets capazes de roubar a atenção dos pequenos, é preferível aos pais que os filhos fiquem dentro de casa com jogos eletrônicos ou consumindo horas e mais horas de vídeos de YouTubers tomando banho de Nutella, e por muitas vezes acabam por não controlar esse tempo. E não é segredo nenhum que tudo em excesso e sem controle é prejudicial para o desenvolvimento social, emocional e cognitivo das crianças.

Deixar uma criança se fechar na tecnologia é bastante prejudicial para seu desenvolvimento. (Imagem: Reprodução/Freepik)

Pode parecer exagero, porém brincadeiras ao ar livre, contato com plantas e ambientes naturais são importantíssimos para esses desenvolvimentos. O jornalista norte-americano Richard Louv, cofundador da Children and Nature Network, uma entidade sem fins lucrativos que defende a interação das crianças com o ambiente natural, é um dos maiores defensores dessa relação entre crianças e natureza, inclusive com seu mais recente livro, Last Child in the Woods (“A Última Criança na Natureza”),abordando o assunto e alertando para um grande mal: o transtorno de déficit da natureza.

Apesar de ainda não ser reconhecido por médicos ou psicólogos, esse transtorno foi identificado e nomeado pelo próprio Louv, que o aponta como um dos grandes responsáveis pela obesidade, falta de atenção e hiperatividade das crianças. Esse isolamento também causa uma grande alienação quanto à natureza, pois os pequenos até entendem sobre o efeito estufa baseado no que aprendem na escola, porém não conseguem identificar fenômenos naturais no dia a dia, nem sabem falar coisas sobre a Amazônia.

A natureza é uma grande escola. Louv defende que ensinamentos ao ar livre são extremamente importantes, tanto por parte da escola quanto dos pais: tirar as crianças do ambiente corriqueiro, como sala de aula ou a frente da televisão, e levá-las para parques, praças ou bosques já imputa em seus cérebros uma carga de novidades estimulantes, elevando seus desempenhos. O ideal, segundo Louv, seria destinar a mesma verba gasta em novidades e educação tecnológicas em atividades ao ar livre. Deixar crianças “presas” a ambientes fechados não apenas as limita fisicamente, como também social, intelecto e psicologicamente, aumentando o risco de desenvolver ansiedade, estresse e déficit de atenção.

Atividades de aprendizado ao ar livre ajudam no desenvolvimento cognitivo das crianças. (Imagem: Reprodução/Prostooleh)

Precisamos também tomar cuidado com as contradições, o famoso “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Não são poucas as vezes em que a televisão, professores e até os pais divulgam a natureza como algo bom, positivo, gostoso, necessário, importante, etc. Porém, ao mesmo tempo que passam essa lição, os adultos se fecham em celulares, não incentivam ou não buscam sair com as crianças para parques e preferem passar o final de semana ou feriados trancados em casa. Isso gera uma grande confusão na cabeça da criança, afinal, por que curtir algo que os adultos falam que é bom se eles mesmos não o fazem?

Controlar o tempo diante das tentações tecnológicas também é necessária para estimular o ócio criativo nelas. Voltemos no tempo: antigamente, era comum crianças criarem histórias e brincar com bonequinhos, montar cabaninhas com os lençóis da casa ou passar o dia inteiro com os amigos na rua. O ócio criativo é uma excelente forma de estimular a criatividade e abrir as crianças para o contato com a natureza, melhor ainda com a participação dos seus responsáveis, que devem se mostrar disponíveis para brincarem e criarem algo junto delas, longe da tecnologia. Isso também ajuda as crianças a enfrentarem possíveis medos que têm da natureza, medos esses muitas vezes imposto pelos próprios adultos (insetos causam doenças, plantas são venenosas, a floresta é perigosa, etc).

A natureza é uma infinita fonte de inspiração e aprendizado. (Imagem: Reprodução/Diller)

As crianças de hoje serão os adultos de amanhã, e os educadores, pais e responsáveis são as peças fundamentais para o bom desenvolvimento de nosso futuro. Não podemos mais transferir para Netflix ou tablet a responsabilidade na criação e educação das crianças. Saiam com elas, marquem um dia de piquenique em um parque, leiam livros para eles, criem histórias e as encenem com bonequinhos ou em um teatrinho. Estimulá-los a sair do mundo virtual e se aventurarem pelo real é necessário para o desenvolvimento educacional, e também as protegem de ameaças virtuais, que podem levar a tristes ocorrências, algo que trataremos mais profundamente em outro momento.

Richard Louv falou sobre o transtorno do déficit da natureza em uma entrevista sobre o projeto Children and Nature Network, publicado pelo portal Alana:

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