Alguns barracões se profissionalizaram a ponto de funcionarem com a organização de uma multinacional

Escolas de samba: profissionalismo e organização para esbanjar criatividade
Escolas de samba: profissionalismo e organização para esbanjar criatividade

A dimensão dos desfiles de escolas de samba brasileiras chama anualmente a atenção do mundo. Mas não é fácil carregar o título de “maior espetáculo da Terra”. A cada Carnaval, batalhar pelo prêmio de melhor agremiação leva a cada vez mais trabalho e profissionalização. Assim, hoje em dia, as escolas de samba são verdadeiras empresas. Cada departamento deve funcionar como um relógio para que tudo saia dentro do planejado.

Tanto é assim que, já em 2003, um projeto do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) ajudava escolas de samba de São Paulo a expandir seus potenciais para além do feriado, driblando a sazonalidade e tornando-as sustentáveis durante todo o ano.

O programa de orientação, consultorias e cursos focava nos negócios, no marketing, na criação de produtos com a marca da escola e na recepção aos turistas.

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O profissionalismo das escolas é objeto de curiosidade e de estudo por parte de estrangeiros que, além de gostar de samba, vêm ao Brasil para tentar aprender algo com a organização dos desfiles. Jornais como o britânico “Financial Times”, por exemplo, já abordaram o tema em reportagens. Em 2010, o “FT” comparou as escolas com os clubes de futebol, afirmando que ambos tiveram de adotar ferramentas do mundo dos negócios para ter mais sucesso. De acordo com o veículo, o amadorismo pode trazer problemas.

Aprendendo com as escolas de samba

Já Alfredo Behrens, da FIA Business School, publicou no mesmo jornal em 2016 que “incutir um pouco da sabedoria organizacional das escolas de samba pode gerar o nível de envolvimento que falta atualmente no Brasil”.

O processo de criação assemelha-se realmente a um projeto administrativo, seja público ou privado. A partir do enredo escolhido pela agremiação, outros elementos são idealizados e, um após outro, precisam estar em harmonia para contar a história da forma adequada. Por isso, os colaboradores da escola são divididos em grupos menores e cada um fica responsável por uma parte específica.

Um estudo do Departamento de Geografia da FFLCH-USP, conduzido pela pesquisadora Vanir de Lima Belo, traça um panorama do desenvolvimento dos desfiles ao longo do tempo. Em São Paulo, a profissionalização teve início em 1967, com o processo de oficialização do Carnaval. “Os agentes privados, baseados em interesses econômicos, atuaram no sentido de impulsionar esse desenvolvimento”, relata a pesquisa.

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A autora cita que, com a inauguração do sambódromo, em 1991, a manifestação popular foi descaracterizada por normas geradas fora do contexto original, mudando direcionamentos.

Escolas de samba como atração de lucro

A partir da década de 1990, os desfiles em São Paulo despontaram como “negócio turístico lucrativo”, explica Belo. Ela também cita o apoio por parte do poder público e de legislações de incentivo.

“Os novos conteúdos exigem das escolas maior organização interna e maior investimento, pois os desfiles se tornam mais luxuosos e, consequentemente, mais caros”, diz.

“Isso aumenta a disputa entre as agremiações que […] passam a adotar novas estratégias de crescimento, desenvolvimento e obtenção de recursos, ganhando uma estrutura cada vez mais empresarial”, resume a autora.

Em meio a mais um Carnaval, temos a oportunidade de assistir aos desfiles com outros olhos. Se sua escola de samba favorita fosse uma empresa, você estaria contente com os resultados? Bom, hoje isso não importa: agora é hora, acima de tudo, de diversão!

Fontes: G1 / BBC

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